domingo, 16 de setembro de 2007

Despedida


"A gente nunca sabe a falta que as pessoas vão fazer"

Talvez a gente saiba.
Difícil olhar para uma pessoa querida e pensar que tudo ficaria bem se, por algum motivo, ela se ausentasse.
Mas é verdade... Algumas faltas nos pegam de surpresa. Algumas vezes, a distância é necessária para se descobrir a importância da existência de alguém. Há quem ganhe uma segunda chance. Há quem seja obrigado a lidar com o remorso pelo que disse e não disse, fez e não fez.
Mas tudo isso, tudo isso para dizer que o que eu não sabia era que você ia se tornar falta.
Não, não porque eu não desse importância para você. Não porque você indo embora, não mudaria nada. Mas porque eu não achava que você iria embora. Eu não sabia que, no lugar da sua vida, ia encontrar... bem, não ia encontrar mais sua vida. Ninguém sabia.
Desculpa, mas é difícil acreditar.
Você era uma dessas pessoas que simplesmente parecem vivas demais.
É isso? É esse o problema?
Não, sei que não...
Mas aí aparece um caminhão... o carro não escapa, o avião não sobe... e vocês se vão.
Eu espero que você não tenha sofrido. Eu também espero que você esteja bem. Não quero pensar no acidente, no hospital, no enterro. Como foi, o que aconteceu, o que você sentiu... Tortura. Daria um certo alívio ter uma descrição exata do momento? Saber o que atingiu você, por que seu coração parou? Talvez. Mas, no final da explicação, você volta? Não, né? Então deixa. Não quero.
Hoje eu fui na sua casa, primo.
Entrei no seu quarto, vi suas coisas. Seu computador, seus documentos, sua cama, suas fotos. Seu celular. Desculpa, mas eu olhei tudo. Mensagens recebidas e enviadas, arquivos, álbum. Ali eu não chorei. Gostei de estar perto. De conseguir estar perto.
Falta vontade de ser racional agora.
Então, olha... Tem muita tristeza por aqui. Essas saídas imprevistas causam certo impacto, sabe? Mas já tem um pouco, um pouquinho de riso. Porque você deixou tanta história e tanta coisa boa na gente. A gente conta do Dottori, de viagens, de almoços de três horas, de piadas, de companheirismo, de sonhos, de planos, confidências. Tudo que agora virou lembrança. E dói. Mas não se preocupa, não. Sempre haverá a falta, mas sempre haverá o carinho. Por aqui, a gente se ajeita aos pouquinhos. Então não se assusta com as lágrimas. A idéia é que a gente se fortaleça. Ainda parece mentira. Eu quero só a saudade, sem a tristeza. Quero lembrar (e é incrível como as lembranças afloram, agora tão especiais) e sorrir, não cultivar uma ferida. Esquecer você? Deixar de pensar, de falar? Não, nunca. Quero descobrir como amparar essas pessoas que nos são tão caras. Ter você no coração, ponto forte em comum, vai nos unir ainda mais.

Foi muito bom te conhecer, Lelê.

Tchau.






Quinta-feira, 10 de janeiro de 2008:
Rapaz extremamente parecido no metrô. Perdi a estação de desembarque. Temi que, se desviasse para muito longe o olhar, ele desapareceria.
Não, não era ele. Ele nunca mais vai pegar metrô, usar óculos de sol, parar fazendo pose, aparecer na casa da vó, sentir o sol.

Tem dias que tanta coisa dói.